segunda-feira, 26 de março de 2007

Um bend na alma

por Daniel Peres, em 25/3/2007
Numa tarde nublada, empoleirado numa janela, conheci o que realmente viria a significar blues para mim. Quem já ouviu Albert King sabe do que estou falando, parece que a guitarra é uma extensão do seu corpo, mais especificamente de sua voz. A voz rouca mistura-se ao som “engordurado” da sua guitarra, fruto das válvulas do seu amplificador.
Albert Nelson (seu verdadeiro nome) nasceu em Indianola, Mississipi, em 25 de abril de 1923 e viveu, juntamente com seus 12 irmãos, numa plantação de algodão no estado de Arkansas.

Albert e sua inseparável Gibson Flying V (chamada por ele de Lucy) percorreram um longo caminho juntos, construíram o que verdadeiramente chamamos blues. Não podemos esquecer da trindade bluseira da qual Albert faz parte (Albert, B.B. e Freddy King), mas isso é assunto para uma outra ocasião.


Seu primeiro hit foi “I'm A Lonely Man”, de 1959, mas em 1961 gravou a lendária “Born Under A Bad Sign”, música que o fez verdadeiramente reconhecido no cenário musical. Essa música foi regravada por bandas consagradas como o Cream.

Sua guitarra canhota sem inversão das cordas inspirou grandes artistas do blues. Os ecos da sua genialidade podem ser notados com uma audição um pouco mais cuidadosa de artistas do blues como Gary Moore, Eric Clapton e o saudoso Stevie Ray Vaughan, morto em um acidente aéreo em 1990. Não há concepção de blues sem sua guitarra, os timbres se modernizaram, mas a maneira de tocar as cordas, a força e sensibilidade na interpretação das canções foram herdadas de Albert. Uma prova dessa convivência entre o antigo e o moderno está registrada no disco “In Session” em que Albert faz um duo com Stevie Ray Vaughan. Considero este disco imprescindível para quem quer conhecer o Albert e o seu maior discípulo, mesmo que as diferenças de toque e timbre se façam mais claras do que as semelhanças. Para quem quiser beber na fonte e ao vivo, aconselho “Live in Montreux”, de 1974.

Albert King veio a falecer em21 de dezembro de1992, vítima de um ataque cardíaco em Memphis, Tennesse. Resta-nos agora escutá-lo e sentir verdadeiramente seus bends elevarem não só as cordas, mas também as nossas almas.